Exposição “O Tempo”
Atelier de Pintura Maria Amaral
Maio de 1994




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“O Tempo”

Maria Amaral nasceu em Lisboa num dia de Setembro do ano de 1953, mas foi no Alentejo, onde passou a sua infância, que o sonho da pintura comecou. E foi aí, no tempo do amanhecer da vida, que lhe aconteceram os primeiros esboços do seu sonho – os desenhos e as aguarelas tímidas. A sua infância continuava cercada dos Invernos frios, das Primaveras translúcidas e das tardes quentes de Verão ...
Mais tarde foi a adolescência e o tempo da procura da verdade. E foi nas planícies infindas, salpicadas de casas brancas, que Maria Amaral encontrou a verdade da sua pintura.
Depois, o casamento e os filhos – outro tempo da sua vida.
E foi o tempo, que dominou todo o seu percurso de mulher, que Maria Amaral escolheu para tema da sua primeira exposição individual.

- Analide Sobral -


Maio de 1994. Maria Amaral pergunta a si própria o que vai expor. Pintou lugares e coisas, continuando a pintá-los de uma maneira que já nada tem a ver com a de há alguns meses atrás. Alinha as telas pelo chão e contra a parede. Os quadros ganham um índice de ressonância maior ou dão a sentir que os primeiros e os últimos se iluminam mutuamente. Dir-se-ia uma série de recorrências que se vão aprofundando no fluir do tempo, em jogo de cor, luz e sombra. No quadro – esse vestígio material do acto de pintar – há sempre a implicação da passagem/paragem do tempo. Para Maria Amaral, a aprendizagem do ofício, em quadros conquistados pinceleda a pincelada, tem sido um modo de vida como a própria arte. “Podemos preparar-nos para ela sem o saber, como disse Rilke, vivendo de uma maneira ou de outra. (...) O tempo, neste caso, não é uma medida. (...) Ser artista é não contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva, sem temer que o Verão possa vir. O Verão vem para aqueles que sabem esperar, tão calmos como se tivessem na frente a eternidade”.

- Maria João Frade -


Em arte, as teorias têm a mesma utilidade que as receitas em medicina: para acreditar nelas, é preciso estar doente. – O saber mata o instinto. Não se faz pintura; cada um faz a sua própria pintura. – a minha ânsia vai até ao ponto de querer redescobri-me nos impulsos adormecidos, nas profundezas do inconsciente, que a vida superficial, as convenções nos tiraram. Eu observo ainda as coisas com olhos de criança. – Um profundo sentimento de humanidade se apoderou de mim (...) compuz, partindo do instinto. Apliquei as cores com a única ideia que para mim tudo desculpa: dizer o que sentia. Pintei balbuciando só para mim. Parecia-me que a água, as nuvens, as árvores, se apercebiam da felicidade que me proporcionavam. – Não tinha qualquer ideia preconcebida. Ser pintor não é uma profissão, como não o é ser anarquista, amante, corredor, sonhador ou pugilista. É um acaso da Natureza.

- Maurice Vlaminck -