Exposição "Máscaras"
Formarte Galeria de Arte
Junho / Julho de 2002

voltar
A Máscara ou O verdadeiro retrato de Dorian Gray

Disse Oscar Wilde que a Arte não tem por função descrever a vida, ela antes a imagina e através desta imaginação recria-a infinitamente melhor do que se ficasse feliz apenas em a copiar. Mas, nesta exposição vai-se muito mais longe que a simples recriação de vivências. Partindo da aparência, da falsa enganadora verdade dos sentidos, procura-se uma nova realidade, onde as coisas e neste caso as pessoas são o que efectivamente são.

A partir do pretexto da máscara, Maria Amaral, executa uma série de retratos, à partida cruéis, onde todos os fantasmas são exorcisados. Os artifícios e as fantasias de que as pessoas se revestem para poderem existir em sociedade são removidos e passa-se para a esfera de um realismo intelectual, onde de alguma forma todos nós nos conseguimos introspeccionar. Sim, efectivamente o tema desta exposição somos todos nós (e aqui o escrevinhador destas modestas linhas não se exclui) tal como somos e não como nos construímos, criando uma capa exterior agradável, mas relegando para o local mais recôndito da nossa memória o nosso verdadeiro retrato.

O ineditismo do tema tratado, na obra de Maria Amaral, motiva também reflexão, já que tendo firmado os seus créditos na esfera da paisagem, é necessária inequívoca coragem para procurar novos motivos, no fundo novos pontos de partida, que obrigam a pintora à busca de novas linguagens plásticas. Tecnicamente o conjunto de obras expostas merece análise detalhada, sendo de registar a plasticidade pouco habitual destas pinturas, onde a justaposição das manchas texturadas e a vivência da cor têm um papel particularmente relevante na transmissão de emoções. Registe-se que as mesmas cores mudam profundamente de sentido de acordo com o que é representado, veja-se a oscilação sofrida pelos tons azuis e cinzentos que numa obra são sinônimos de paz e calma enquanto que noutra adensam o carácter sombrio da composição; da mesma forma as cores mais vivas são utilizadas quer para manifestar júbilo, quer, mudando de sentido psicológico, para exprimir agitação, sendo pois também as cores mais cruéis.

Disse alguém que não nos podemos jamais encontrar se não confrontarmos a Verdade e é essa coragem que, com a força de uma declaração formal, nesta exposição se pinta.

- Paulo Morais Alexandre -
Professor de Tendências das Artes Plásticas na Escola Superior de Teatro e Cinema