O que ata ou desata a linha vaga e breve, intensa e clara ideia do que é ou deveria ser o silêncio?
O que é
exactamente a pintura, a “habitabilidade gestual”, o talento,
a Arte em si mesma?
Em que margem desassossegada se instalam os ritmos certos do que é
e do que parece ser? Ou se quiserem, do que é aparência intencional
e do que foge à retórica estilística?
Perguntas às quais nenhuma paleta responde. Perguntas que só fazem sentido enquanto isso mesmo: interrogações sobre um caminho vivido sempre a sós. Como ostensiva e serenamente faz Maria Amaral.
Uma Pintora que troca o lugar do silêncio, que abre as portas da solidão, que investe no rumor do azul quase pálido, que nos inquieta. Uma Pintura onde o espaço não tem mancha, onde as manchas invadem o nosso espaço de sonhar. E sempre o silêncio a bater nas arestas, e sempre um horizonte afogado de cinzas que nos apertam, de rosados estrangulados a quererem saltar, ora de um Alentejo ora de uma cosmopolita Nova Iorque.
Maria Amaral não facilita, não se desvenda em aventuras cromáticas fortuitas, não descura a forma, não aveluda as esquinas.
Maria Amaral trata com secreto pudor a dor maior do silêncio. E nele nos perdemos de tanto procurar o que existe de comum entre lugares tão separados quanto colados, e afinal, o que nos aproxima é uma arte pessoalíssima: a Arte de pintar o invisível, a Arte de arrebatar o ventre da cal à cal do silêncio.
Nesta Pintora, que não se mede por “modismos”, mede-se a distância. A terrível e fascinante distância do amor. Maria Amaral anda à solta por dentro das raízes. Deixemo-nos pois guiar nesta doce invisibilidade onde ainda nos é permitido imaginar a tela de um amanhecer. Que importa o lugar? Ela devolve-nos à pureza de um tempo sem limites!
- Isabel Mendes
Ferreira -